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Miragem

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sexta-feira, 23 de abril de 2010

As images,os odores

A vida na aldeia evoluía ao ritmo das estações,das festas religiosas,das sementeiras e das colheitas,da vida e da morte,sempre seguindo um ritual milenar de morte e de renascimento.Assim tudo tem um tempo de acordo com as leis da natureza.


Para um criança este é um mundo maravilhoso que morre e renasce a cada primavera,e com isto se vai construindo e reinventado a cada ano que passa.

Clara viveu este tempo com a curiosidade natural de criança e com o deslumbramento de quem aprende o mundo.E participou activamente em todas as fases.

Na primavera preparava-se o terreno para as sementeiras,era preciso semear batatas,o milho,o arroz,tudo o que era necesaria para a alimentação das pessoas e dos animais.A agricultura ainda muito rudimentar servia-se apenas dos animais e dos braços dos homens.A junta de bois puxava a charrua,que rasgava a terra e a voltava do avesso,preparando-a a receber mais uma vez novas sementes,era também no calendário religioso o tempo da Pascoa,,que significava ,morte e renascimento.O calendário religioso andava sempre de mãos dadas com os ciclos da natureza

No fim do verão,as colheitas,era o tempo que Clara mais gostava,as pessoas andavam mais alegres e as colheitas eram sempre muito mais ricas em imagens ,sabores e odores.

.A infância de Clara foi povoada de muitas imagens ,sabores e odores,uns mais presentes outros mais fugazes,mas que ainda hoje estão presentes no mais profundo da sua memoria.

"Trago tatuado na memoria os sabores e os odores que construíram a minha história.
O cheiro a terra lavrada. a poeira que se levantava com o vento e com a chuva fazia leito onde se estendia pela estrada. Das flores que se alongavam nas vielas, das cores vivas que subiam pelas janelas.
Da pele lavada a sabão branco e vermelho ,do cheiro do cansaço da vida que emanava do corpo d'um velho.O cheiro a roupa lavada no rio ,,a terra húmida quando chuva partia e tempo se fazia Estio.
Tem o cheiro do milho que seca estendido em dias de sol,na eira, da massa a levedar no fundo da masseira.
Do pão que já cozido fumega no fundo do forno.
A minha infância tem o sabor da canela estendida na aletria do Natal ,dos carolos cozidos por altura do Carnaval.Tem o sabor doce amargo da romã, do beijo carinhoso que dos lábios da minha mãe recebia pela manhã. tem o sabor da liberdade e da inocência ,das brigas e dos amuos, dos sonhos e das descobertas dos avanços e dos recuos.
A minha infãcia tem o sabor do rio á nascente neste corpo transformado MULHER."




Tantas vivências inscritas nas memorias que se vão dispersando nas bifurcações da vida,quando tomamos outra direcção.



Quantas vezes já na sua vida de adulta ,Clara gostaria de de num só passo,saltar para o outro lado do caminho e atravessar esse fio invisible que a separa das vidas que já viveu e retomar caminhos que já percorreu,como se esses caminhos fossem paralelos , aqueles onde a sua vida viveu.
Tantos caminhos tomados,tantos deixados para trás e sempre a mesma sensação de morte e renascimento.De fim e de recomeço,como se numa vida se inscreve-se,várias vidas.

2 comentários:

  1. Muito interressante este blogge um conteúdo muito bom.
    Vou continuar atenta.

    Beijos

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  2. Maravilhosa descrição da natureza vivida, sentindo-lhe o cheiro à boa maneira de Miguel Torga. Belos retratos da vida extraídos da mais pura natureza. Continua a escrever, não tenhas receio de pôr a nu a tua alma, porque o que é belo não deve se esconder.

    Meu blogue:
    http://lucas-manuellucmanuel.spaces.live.com/

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